Montar uma empresa e levá-la ao sucesso vai muito além das teorias de gestão de negócios. Na prática, a escolha de um sócio e o relacionamento com ele podem levar o projeto ao fracasso, mesmo que a ideia seja extremamente promissora.
Para especialistas, os motivos do término de muitas sociedades estão ligados às características dos profissionais envolvidos, que na maioria das vezes não são compatíveis.
— É comum encontrar sócios que se uniram porque queriam se livrar da figura de um chefe. Com a convivência, descobrem que as exigências de ser a referência dentro da empresa e que seu sócio tem um peso até maior do que o antigo chefe são pontos fundamentais a serem avaliados antes de firmar a parceria —, explica Beatriz Helena Schulze, consultora de gestão de pessoas da Consultoria LiseChaves.
A prática ideal é identificar no dia a dia parceiros em potencial. Gladimir Mendes e Victor Kochella se conheceram nas reuniões da Associação de Joinville e Região da Pequena, Micro e Média Empresa (Ajorpeme) e perceberam que suas empresas tinham potencial para prosperar mais trabalhando juntas.
— Começamos trocando a carteira de clientes para ampliar os negócios. Depois, passamos a desenvolver projetos que ofereciam no pacote o serviço que o outro realizava. Os negócios combinaram perfeitamente e a parceria deu muito certo —, conta Gladimir, que criou a Veg Tecnologia.
Antes eles dividiam salas comerciais. Hoje, os negócios cresceram juntos e ocupam uma casa de dois andares.
— O respeito pelo trabalho do outro é fundamental. Há confiança de que cada um desenvolverá um bom projeto dentro de sua área de atuação. Somos bem organizados com a questão financeira também —, diz Victor, idealizador da WTTI Webtech.
— A confiança é um ponto-chave. Se um deles sentir que precisa ficar acompanhando cada passo do outro, é sinal de que a parceria não vai dar certo. Por isso, é fundamental criar uma sociedade com funções claramente estabelecidas —, sugere Tales Andreassi, coordenador do Centro de Estudos em Empreendedorismo e Novos Negócios (GVcenn) da Escola de Administração de Empresas de São Paulo, vinculada à Fundação Getulio Vargas (FGV).
No caso da sociedade entre Douglas Strelow e Roberto Pugliese Jr., que administram a Agôn Assessoria Esportiva, a divisão de tarefas aconteceu de forma natural.
— Pela experiência profissional de cada um, ficou claro na prática quem deveria se responsabilizar em cada área. Encontrar um sócio é muito difícil. Acreditamos que tivemos uma grande sorte neste ponto, pois tudo se definiu naturalmente —, afirma o advogado Roberto.
— Claro que não existe receita de bolo para a sociedade perfeita. São coisas que se ajustam na prática, sem esquecer da humildade para reconhecer os argumentos do outro. O importante é identificar e respeitar os potenciais de cada um —, diz Douglas, que é formado em educação física.
— Se os sócios não têm a experiência necessária em todos os setores que uma empresa precisa, devem colocar na ponta do lápis a contratação de um profissional capacitado para aquela área. Na hora de estruturar a base da sociedade, é fundamental definir no papel as funções e responsabilidades de cada um, inclusive com as projeções da sociedade no futuro —, indica Roberto Salazar, diretor da Faculdade de Administração da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), no Sul.
Tudo muito claro no papel
O pontapé para a administração da sociedade é o contrato. É a hora de pensar cada detalhe do dia a dia e do futuro.
— Um bom contrato é a garantia do bom funcionamento da empresa —, destaca Tales Andreassi.
Questões práticas como responsabilidades, retiradas, participações, sucessão de funções, envolvimento de familiares e aplicação de estratégias de negócios devem estar no papel que formaliza a sociedade.
— Ainda assim, é importante saber que o risco de a sociedade não dar certo estará sempre presente e que é necessário assumi-lo com cuidado para evitar turbulências —, indica Édis Mafra Lapolli, professora do programa de pós-graduação em engenharia e gestão do conhecimento da UFSC.
Os contrapontos que vão surgir no ambiente profissional devem ser vistos como oportunidades para melhorar o desempenho da empresa.
— Se as opiniões dos sócios são sempre iguais, a empresa fica estagnada. Os contrapontos estimulam os profissionais a pensarem coisas diferentes e evoluírem em discussões que trazem inovações —, avalia Beatriz Helena Schulze.
Édis alerta que ser sócio é diferente de ser dono. O empreendedor deve ter capacidade de compreender que os objetivos da empresa precisam ultrapassar os interesses pessoais. Os esforços devem estar centralizados nos desafios do mercado.
— O dia a dia pede empatia e resiliência —, sugere Roberto Salazar, da ESPM.
Amigos e família à parte
Enquanto muita gente pensa que escolher um sócio no ambiente familiar é uma estratégia de sucesso, especialistas alertam que esta é a atitude mais arriscada.
— Os problemas começam a ocorrer por meio de desgastes pessoais ligados a fatores emocionais que prevalecem sobra a razão. Grande parte dos valores individuais de cada sócio se sobrepõe aos verdadeiros interesses da empresa —, explica Édis Mafra Lapolli.
A maturidade dos profissionais envolvidos é um ponto-chave na sociedade. Mas, nos casos entre amigos e familiares, é uma questão que não deve ser esquecida nem por um segundo.
— Separar afinidade e sociedade é fundamental. É muito comum encontrar empresas que nasceram de sócios que se dão bem na vida pessoal e acham que isto é o suficiente —, diz Roberto Salazar.
— Família não é garantia de nada. Se a sociedade não der certo, a solução do problema pode ser muito mais difícil por causa das questões pessoais —, conta Tales Andreassi.
— Mesmo que o perfil daquela pessoa já seja conhecido, é preciso avaliar suas competências da mesma forma com que se avaliariam profissionais sem vínculo algum. Ela não vai ser tornar uma boa sócia porque há entrosamento fora da empresa. As responsabilidades continuam e precisam de excelência no ambiente de trabalho —, argumenta Beatriz Helena Schulze.
Outro problema comum em sociedades são os desentendimentos que ultrapassam a barreira entre o profissional e o pessoal.
— Pontos de vista diferentes são normais nos negócios. O problema de ter um sócio na esfera pessoal é que, às vezes, a falta de maturidade faz com que estas questões
sejam levadas para o dia a dia da família e dos amigos —, destaca o diretor da ESPM.
— A discussão pode até aumentar, e o clima começa a ficar difícil de sustentar. Muitas sociedades acabam por falta de maturidade e comprometimento mesmo quando o negócio é promissor —, acrescenta.
O que faz dar errado
- Incompatibilidade de princípios profissionais.
- Falta de confiança, respeito, humildade e bom senso.
- Não saber ouvir, nem aceitar contrapontos.
- Falta de determinação para lidar com as exigências do negócio.
- Irresponsabilidade com a execução de funções e na administração do caixa.
- Comportamento inadequado em frente aos funcionários.
- Um dos sócios percebe que não está pronto para tal tarefa.
- Descontrole emocional para realizar as funções do dia a dia em conjunto.
- Confusão entre vida pessoal e profissional, principalmente no caso de sociedade entre familiares e amigos.
- Ausência de um contrato que estipule as regras da sociedade, inclusive com previsão da administração dos negócios no futuro.
- Indefinição sobre a área financeira da empresa.
- Falta de limites para familiares/amigos que tentam dar opiniões.
- Ausência de transparência total da atividades dos sócios.
- Resistência em promover inovações.
Fonte: ESPM, FGV, LiseChaves e UFSC
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